A advogada da adolescente vítima do estupro coletivo no Rio
de Janeiro vai pedir a troca da delegacia que investiga o crime.
vídeo com cenas da agressão sexual sofrida por uma adolescente de 16
anos se apresentou ontem à noite à polícia, no Rio de Janeiro. Em
depoimento, a adolescente afirmou que foi estuprada por mais de 30
pessoas.
A polícia fez mais uma operação na favela da Zona Oeste do Rio. Os
agentes tentam identificar os autores do crime. Na sexta-feira (27) os
investigadores estiveram na casa onde a adolescente de 16 anos sofreu o
estupro coletivo.
"O local é conhecido como 'abatedouro'. 'Abatedouro', nas palavras das
pessoas que prestaram declaração aqui hoje, seria para onde levavam as
meninas para terem relações sexuais", explica Alessandro Thiers, da
Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.
A adolescente prestou o segundo depoimento da polícia, que durou pouco
mais de três horas na noite de sexta (27). Mais cedo ela falou com
alguns repórteres e o jornal O Globo publicou parte da entrevista na
internet. "Eu me sinto um lixo hoje, eu não queria que outra pessoa se
sentisse assim".
Entre as repercussões que o crime alcançou, está uma carta da ministra
Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. Ela diz: "Não pergunto o nome
da vítima: é cada uma e todas nós mulheres e até mesmo os homens
civilizados, que se põem contra a barbárie deste crime" e termina
dizendo que "os criminosos haverão de ser devida e rapidamente
responsabilizados".
A adolescente já tinha contado à polícia que foi visitar o rapaz com
quem tinha um relacinamento e depois só se lembra que acordou em uma
outra casa com 33 homens armados com fuzis e pistolas. Ela estava dopada
e nua.
No vídeo publicado por eles em uma rede social um deles diz que mais de
30 homens teriam participado do estupro. "Mais de trinta, engravidou.
Entendeu ou não entendeu?", diz o áudio.
Raí de Souza, de 22 anos, se apresentou à polícia dizendo ser o autor
do vídeo. "Ele falou o que está no depoimento dele, que ele realmente
tinha filmado, que ele estava falando que era dos 30, que ele estava
tentando se vangloriar, mas que realmente não foi ele e não houve
estupro, não houve estupro. Houve um ato sim, sexual, permitido pela
suposta vítima", relata Cláudio Lúcio, advogado do jovem que participou
do ato.
Raí não aparecia na lista dos quatro suspeitos já identificados. Ele
disse que é amigo de Lucas Perdomo Duarte dos Santos, com quem a
adolescente tinha um relacionamento. Lucas também prestou depoimento na
noite de sexta-feira (27).
"O Lucas disse que não teve qualquer tipo de relação com ela. e sim com
a outra menina que está aí", diz Eduardo Antunes, advogado de Lucas dos
Santos.
A policia também investiga Marcelo Miranda da Cruz Correa, de 18 anos, e
Michel Brazil da Silva, de 20 anos, suspeitos de divulgar as imagens na
internet, e Raphael Assis Duarte Belo, de 41 anos, que aparece ao lado
da vítima em uma foto.
O caso está com a Divisão de Combate a Crimes de Informática. Na manhã
de sábado (28) a advogada da adolescente disse que vai pedir a troca da
delegacia porque a meninna se sentiu acuada e reclamou da presença de
três homens acompanhando o depoimento, e de perguntas que o delegado
fez.
"Ele perguntou se ela tinha sido cooptada pelo tráfico para trabalhar
com eles. Em uma investigação por estupro em que ela é a vítima. Que
cabimento tem isso? Pergunta para os traficantes. Outra situação
inadequada a presença da vítima e dos seus agressores no mesmo ambiente.
Mesmo que em salas distintas, eles estavam lá com ela", afirma Eloísa
Samy, advogada da adolescente.
Em nota, a Polícia Civil do Rio disse que a investigação é conduzida de
forma técnica e imparcial, para reunir provas do crime e identificar os
culpados, e que a investigação tem sido feita de forma integrada com a
delegacia da criança e do adolescente.
A nota diz ainda que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), atendendo a
convite da Polícia Civil, vai designar um representante para acompanhar
o trabalho.
Em 2014, a advogada Eloísa Samy chegou a ser presa pelo mesmo delegado
que investiga o caso da adolescente, Alessandro Thiers, por
envolvimento em atos violentos durante protestos no Rio. Ela foi acusada
de formação de quadrilha e coerção de menores e nega veementememnte as
acusações, diz que apenas estava atuando como advogada e que não há
nenhuma relação com o caso atual.
Na operação que fez na manhã de sábado (28) na favela São José
Operário, a Polícia Militar prendeu um homem, mas não confirma se ele
tem envolvimento com o caso do estupro. Também foram apreendidos dois
carros e drogas.
G1
G1