Vasectomia: Perguntas e Respostas



 
Por Hermann MoraesPublicadoterça-feira 10 de junho de 2014 2:30 PM0 ComentárioTags: cirurgia, vasectomia Vasectomia é uma operação simples para esterilizar um homem. Ela é usada como método contraceptivo em muitos países do mundo, e aproximadamente 50 milhões de homens já fizeram vasectomia – número que corresponde à 5% de todos os homens casados em idade reprodutiva. Em comparação, 15% dos casais utilizam a esterilização feminina para o controle de natalidade. A vasectomia bloqueia os ductos por onde passam os espermatozoides. Os espermatozoides são produzidos nos testículos e armazenados numa estrutura adjacente chamada epidídimo. Durante o orgasmo, os espermatozoides saem do epidídimo através do ducto deferente, e se misturam a outros líquidos mucosos para formar o sêmen. Todas técnicas de vasectomia envolvem o corte ou o bloqueio de ambos ductos deferentes, direito e esquerdo. Assim, não haverá mais espermatozoides no sêmen do homem, e ele não poderá mais ter filhos biológicos.
Quais São as Técnicas de Vasectomia? Na técnica convencional, o médico faz uma ou duas pequenas incisões (cortes) na pele do escroto já anestesiado. O ducto deferente é cortado, e um pequeno pedaço pode ser removido. Depois, o médico amarra as pontas do corte e faz a sutura da incisão escrotal. O procedimento é, então, repetido do outro lado. Um método aperfeiçoado, inventado por um cirurgião chinês, tem sido amplamente utilizado na China desde 1974. A famosa vasectomia sem bisturi foi introduzida nos EUA em 1988, e muitos médicos usam essa técnica. Em uma vasectomia sem bisturi, pelo tato o médico localiza o ducto deferente embaixo da pele do escroto e o prende com um pequeno clipe. Daí, um instrumento especial é usado para fazer um pequeno furo para que o vaso deferente seja cortado. Essa técnica causa muito pouco sangramento e não é necessário fazer sutura (dar pontos), já que os pequenos furos cicatrizam rapidamente. Além disso, esse novo método causa menos dor e complicações do que a vasectomia convencional. Não importa qual seja o método utilizado, a vasectomia traz muitas vantagens como método contraceptivo. Assim como a esterilização feminina, ela é um procedimento simples e altamente eficaz que proporciona contracepção permanente. A vasectomia é, em termos médicos, muito mais simples do que a esterilização feminina; tem menos incidência de complicações e é muito mais barata. A Vasectomia é Eficaz? A vasectomia é muito eficaz. Estima-se que, de cada 10.000 casais, apenas 15 engravidam durante o primeiro ano após a vasectomia. Embora seja raro, a gravidez pode ocorrer até mesmo anos após a cirurgia. Embora alguns homens consigam reverter suas vasectomias, esse processo envolve uma cirurgia mais complexa, dispendiosa e sem garantia de sucesso. Por isso, considera-se a vasectomia apropriada apenas para aqueles que desejam um método contraceptivo permanente. Como é o Processo de Recuperação Após Uma Vasectomia? Após a vasectomia, o paciente provavelmente sentirá alguma dor por alguns dias, e deve repousar por, pelo menos, um dia. Em menos de uma semana, ele já estará completamente recuperado. Muitos homens que fazem a cirurgia numa sexta-feira voltam ao trabalho na segunda. Embora complicações como inchaço, dor, inflamação e infecção possam ocorrer, elas são relativamente incomuns e, quase nunca, mais sérias. Todavia, se você tiver esses sintomas, avise o seu médico. Quais São os Efeitos Colaterais de Uma Vasectomia? O principal estudo já realizado sobre os efeitos colaterais que ocorrem nos 10 primeiros anos após a vasectomia foi publicado no British Medical Journal em 1992. Os pesquisadores perguntaram para mais de 10.000 homens vasectomizados, e para o mesmo número de homens não-vasectomizados, se eles tinham desenvolvido, de uma lista de 99 diferentes doenças, alguma delas. Descobriu-se que apenas uma condição, a epididimite/orquite (descrita como inchaço e dor nos testículos ou epidídimos) era mais comum após a vasectomia. Essa inflamação local geralmente ocorre durante o primeiro ano após a cirurgia. Quando tratada com compressa quente, ela desaparece em uma semana, normalmente. É Possível Reverter Uma Vasectomia? A maior vantagem da vasectomia – seu caráter permanente – é também a maior desvantagem. O procedimento em si é simples, mas revertê-lo é difícil, caro e, muitas vezes, mal sucedido. Cientistas estão pesquisando novos métodos de bloquear o ducto deferente que produzam menos danos ao tecido e possam permitir uma reversão mais bem-sucedida. No entanto, esses métodos ainda estão em fase de estudos e suas eficácias ainda não foram comprovadas. Hoje, o que é possível fazer é armazenar o sêmen em um banco de esperma para assegurar a possibilidade de ter filhos no futuro. Todavia, isso é dispendioso e os espermatozoides do sêmen nem sempre permanecem viáveis (aptos para causar uma gravidez). Por todos esses motivos, os médicos aconselham que a vasectomia seja feita apenas por homens que estejam preparados para aceitar o fato de que não poderão mais gerar um filho. Para chegar a essa decisão, o homem deveria considerar outros métodos contraceptivos com o auxílio de um profissional de saúde. Homens casados e em relacionamento estável também deveriam discutir o assunto com as suas parceiras. A Vasectomia Protege Contra AIDS e DSTs? Não. Embora a vasectomia seja extremamente eficiente para evitar a gravidez, ela não oferece nenhum tipo de proteção contra AIDS/HIV ou outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Consequentemente, é importante que os homens vasectomizados continuem usando preservativos pois, estes sim, proporcionam proteção contra a transmissão de doenças pelo contato sexual. A Vasectomia Afeta Minha Vida Sexual? O homem pode retomar a atividade sexual em poucos dias após a vasectomia, mas devem ser tomadas precauções para evitar uma gravidez até que um exame comprove que o seu sêmen está livre de espermatozoides. Geralmente, esse exame é feito depois que o paciente teve de 10 a 20 ejaculações pós-vasectomia. Se ainda houver espermatozoides no sêmen, o paciente deverá voltar depois para repetir o exame. O Ministério da Saúde recomenda que o homem continue utilizando algum método anticoncepcional por 60 dias após a cirurgia. A vasectomia não afeta a produção ou a liberação de testosterona, o hormônio masculino responsável pela libido, barba, voz grossa e outras características masculinas. A cirurgia também não tem nenhum efeito sobre a sexualidade. Ereções, orgasmos e quantidade de sêmen permanecem iguais. Eventualmente, um homem pode ter dificuldades sexuais após a vasectomia, mas quase sempre essas dificuldades estão relacionadas a fatores emocionais e podem ser aliviadas com aconselhamento psicológico. Muitas vezes, homens que passaram pela cirurgia e suas parceiras, acham o sexo mais espontâneo e agradável, já que não têm mais preocupações com métodos contraceptivos e com uma gravidez indesejada. Existem Reações Imunológicas Depois da Vasectomia? Após a vasectomia os testículos continuam produzindo espermatozoides. Quando um espermatozoide morre, eles são absorvidos pelo organismo, de forma muito parecida com os espermatozoides não utilizados de um homem não-vasectomizado. Todavia, muitos homens vasectomizados desenvolvem reações imunológicas aos espermatozoides, apesar das atuais evidências indicarem que essas reações não causam nenhum mal. Normalmente, os espermatozoides não entram em contato com as células de defesa, por isso não desencadeiam uma resposta imune. Contudo, a vasectomia quebra as barreiras que separam os espermatozoides das células de defesa, e muitos homens acabam desenvolvendo anticorpos para os próprios espermatozoides depois de passar pela cirurgia. Isso aumentou a preocupação de médicos e cientistas porque as reações imunológicas à alguma parte do próprio corpo, às vezes, causa doença. Artrite reumatoide, diabetes tipo 1 e esclerose múltipla são apenas algumas das doenças – suspeitas ou confirmadas – causadas por reações imunológicas desse tipo. As reações imunológicas também podem contribuir para o desenvolvimento de aterosclerose. Após um estudo com macacos, realizado nos anos de 1970, que mostrou um risco maior de aterosclerose em animais vasectomizados, os médicos começaram a suspeitar que a vasectomia pudesse aumentar o risco de doenças cardíacas nos homens. Entretanto, resultados de pesquisas mais detalhadas indicaram que essas preocupações não tinham justificativa. Em particular, o estudo publicado no British Medical Journal em 1992 proporcionou um alto nível de certeza. Os cientistas responsáveis por esse estudo não descobriram nenhuma evidência de que homens vasectomizados tenham mais probabilidade que os outros de desenvolverem doenças cardíacas ou quaisquer outras doenças imunológicas. No entanto, agora que a preocupação sobre doenças cardíacas e imunológicas associadas à vasectomia está caindo no esquecimento, as preocupações sobre o câncer de próstata estão tomando seu lugar. Como Assim? A Vasectomia Aumenta o Risco de Câncer de Próstata? Apesar dos principais estudos mostrarem que não houve aumento do câncer entre homens vasectomizados, três estudos independentes feitos por hospitais, publicados em 1990, relataram correlações positivas entre vasectomia e câncer de próstata. Entretanto, um estudo mais detalhado feito no ano seguinte não encontrou nenhuma relação entre vasectomia e câncer de próstata. Devido à importância do assunto, toda essa pesquisa foi cuidadosamente analisada e os cientistas identificaram vários problemas potenciais nos estudos. É possível, por exemplo, que os homens que escolheram fazer vasectomia naquela época tinham um melhor acesso à saúde. Ou seja, esses homens tinham mais probabilidade de ir ao urologista do que outros, e assim, é mais provável que eles recebam um diagnóstico mais preciso do câncer de próstata, uma doença que, geralmente, não causa sintomas e acaba não sendo diagnosticada. Se for esse o caso, a vasectomia poderia ter dado a falsa impressão de que aumenta o risco desse tipo de câncer. Em outubro de 1991, a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou uma conferência com especialistas de todo o mundo para avaliar as evidências disponíveis sobre a relação entre vasectomia e câncer de próstata. Devido a preocupações adicionais levantadas sobre uma possível associação entre vasectomia e câncer de testículo, essa evidência também foi discutida na conferência. Os especialistas reunidos concluíram que a relação entre vasectomia e câncer de próstata ou de testículo era improvável. Essa conclusão se baseou na extensa análise sobre os resultados dos estudos. Mas essa conclusão foi reforçada mesmo pela ausência de uma razão biológica de como a vasectomia poderia causar alguma forma de câncer. Após a conferência da OMS, dois estudos adicionais sobre homens vasectomizados não encontraram nenhum aumento no risco de câncer de próstata ou qualquer outro tipo de câncer. Na sequência, um estudo realizado em três regiões dos Estados Unidos sugeriu que o grupo dos homens que fizeram vasectomia antes dos 35 anos de idade poderiam ter um ligeiro aumento no risco de desenvolver câncer de próstata. No entanto, o tamanho desse grupo não era suficiente grande para emitir um resultado conclusivo. O estudo não encontrou nenhum aumento no risco de câncer nos homens que fizeram a vasectomia após os 35 anos de idade. Em 1993, uma respeitada equipe de epidemiologistas de Harvard publicou os resultados de dois grandes estudos no Journal of the American Medical Association. Um desses estudos era retroativo, enquanto o outro acompanhou novos pacientes. Ambos estudos descobriram que a vasectomia está associada a um relativo risco moderadamente elevado de câncer de próstata que aumentou com o passar do tempo depois da cirurgia. Após mais de 20 anos, os homens vasectomizados apresentaram duas vezes mais probabilidade de desenvolver câncer de próstata do que os não-vasectomizados da mesma idade. Embora essa conclusão pareça assustadora, os cientistas geralmente consideram as conclusões de risco dessa magnitude de significância duvidosa. Os estudos de Harvard foram analisados por especialistas de várias organizações em um outro artigo. Os autores desse artigo chegaram à conclusão de que esses estudos não poderiam ser ignorados nem adotados por inteiro e que pesquisas complementares eram necessárias. Os autores frisaram que, como as causas do câncer de próstata são desconhecidas, é impossível assegurar que os fatores de risco da doença fossem os mesmos entre homens vasectomizados e não-vasectomizados. Em um dos estudos, os homens que fizeram a vasectomia tiveram uma menor taxa de mortalidade do que aqueles que não fizeram a cirurgia. Isso reforça a possibilidade de que os dois grupos tinham diferentes características. Essas diferenças podem ter influenciado no risco de câncer de próstata, produzindo resultados que apontaram, erroneamente, a vasectomia como uma causa do câncer de próstata. Assim como os anteriores, esses cientistas também apontaram a falta de evidência por algum mecanismo biológico que pudesse ligar a vasectomia com o câncer de próstata. Em 1993, o governo americano convocou uma reunião na qual um grupo de especialistas analisou as pesquisas publicadas, os resultados preliminares de estudos em andamento e uma análise de oito estudos epidemiológicos, inclusive os dois de Harvard citados acima. Os especialistas chegaram à conclusão de que as associações positivas entre vasectomia e câncer de próstata encontradas em alguns estudos podem ou não ser válidas. Os cientistas concordam, entretanto, que se a vasectomia aumenta o risco de câncer, é relativamente muito pouco. A OMS atualmente lidera um grande estudo em vários países em desenvolvimento sobre vasectomia e câncer de próstata, e três outros estudos estão em andamento nos Estados Unidos e Canadá. Os cientistas esperam que essas investigações ajudem a resolver a questão. Enquanto isso, a maioria dos médicos seguem o grupo de especialistas americanos, que em 1993, chegaram à conclusão que não existem fundamentos suficientes para recomendar alguma mudança nos atuais procedimentos clínicos. Os médicos deveriam continuar a propor e realizar o procedimento, afirmaram os especialistas. A reversão da vasectomia não é uma garantia de prevenção do câncer de próstata e os exames para o câncer de próstata devem ser os mesmos para os homens que fizeram ou não uma vasectomia. A vasectomia tem sido usada há quase um século como forma de esterilização. Ela tem uma grande reputação como método seguro de contracepção e já foi comprovada por milhões de pessoas ao redor do mundo. Dadas as evidências, os especialistas acreditam que a vasectomia pode, seguramente, continuar sendo realizada como foi no passado, até que as atuais pesquisas estejam concluídas.