O mosquito Aedes aegypti faz parte da história e vem se espalhando pelo mundo desde o período das colonizações
O mosquito transmissor da dengue é originário do Egito,
na África, e vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do
planeta desde o século 16, período das Grandes Navegações. Admite-se
que o vetor foi introduzido no Novo Mundo, no período colonial, por meio
de navios que traficavam escravos. Ele foi descrito cientificamente
pela primeira vez em 1762, quando foi denominado Culex aegypti. O nome definitivo – Aedes aegypti – foi estabelecido em 1818, após a descrição do gênero Aedes.
Relatos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) mostram que a
primeira epidemia de dengue no continente americano ocorreu no Peru, no
início do século 19, com surtos no Caribe, Estados Unidos, Colômbia e
Venezuela.
No Brasil, os primeiros relatos de dengue datam do final
do século XIX, em Curitiba (PR), e do início do século XX, em Niterói
(RJ).
No início do século XX, o mosquito já era um problema, mas não por conta da dengue -- na época, a principal preocupação era a transmissão da febre amarela. Em 1955, o Brasil erradicou o Aedes aegypti como resultado de medidas para controle da febre amarela. No final da década de 1960, o relaxamento das medidas adotadas levou à reintrodução do vetor em território nacional. Hoje, o mosquito é encontrado em todos os Estados brasileiros.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a primeira
ocorrência do vírus no país, documentada clínica e laboratorialmente,
aconteceu em 1981-1982, em Boa Vista (RR), causada pelos vírus DENV-1 e
DENV-4. Anos depois, em 1986, houve epidemias no Rio de Janeiro e em
algumas capitais do Nordeste. Desde então, a dengue vem ocorrendo no
Brasil de forma continuada.
Pesquisa de 1908 já descrevia características do A. aegypti
O verão de 1908 deixou a população carioca em alerta pelo risco da febre amarela. Foi nesse contexto que Antonio Gonçalves Peryassú, pesquisador do então Instituto Soroterápico Federal, que ganharia o nome de Instituto Oswaldo Cruz (IOC) naquele mesmo ano, fez descobertas sobre o ciclo de vida, os hábitos e a biologia do A. aegypti. Seus estudos foram fundamentais para a erradicação do mosquito em território nacional nas décadas seguintes e ainda hoje norteiam as pesquisas sobre o controle do vetor.
Numa monografia com mais de 400 páginas, intitulada Os Culicídeos do Brasil, o entomologista descreveu os hábitos do A. aegypti
e de uma série de outros mosquitos da mesma família, apresentando
aspectos nunca antes observados de sua biologia. Durante dois anos,
Peryassú realizou uma série de experimentos com o A. aegypti.
Seu estudo trouxe preciosas informações sobre aspectos como a
resistência à dessecação do ovo do mosquito, que pode ficar até um ano
sem contato com a água. Também fez observações quanto à produtividade
dos criadouros, questão ainda debatida na atualidade, afirmando que, em
geral, grandes reservatórios de água são os focos mais produtivos do
vetor.
Entre suas mais interessantes descobertas estão, também, a relação do
mosquito com a temperatura e a densidade populacional. Ao realizar o
primeiro levantamento detalhado da infestação do mosquito no Rio de
Janeiro, o pesquisador associou a maior presença do A. aegypti
ao aumento da densidade populacional de certas áreas da cidade e também
mostrou a similaridade entre o mapa da concentração da população do
inseto com o da ocorrência de casos de febre amarela. Suas observações
mostraram, ainda, que a queda da temperatura ambiente para menos de 20oC interfere no desenvolvimento e na reprodução do mosquito, que se reduzem drasticamente, levando a uma redução dos casos.
As descobertas de Peryassú deram ainda mais força à
campanha movida pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz para eliminação do
mosquito, que foi controlado na década de 1920 no Rio de Janeiro e
considerado erradicado do Brasil pouco mais de trinta anos depois. A
maioria dos pontos levantados em suas pesquisas continua na agenda
científica dos especialistas que hoje buscam desenvolver estratégias de
controle do mosquito transmissor da dengue.
*Todos os conteúdos foram revisados por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

