AFEGANISTÃO – AS MULHERES NA CULTURA AFEGÃ - ipnjc

afegAssim que o regime Taleban assumiu o controle do país, no rol de coisas proibidas estavam a música, a dança, as figuras representando pessoas ou quaisquer outros seres vivos, as pipas e os sapatos brancos. Com a expulsão dos talibãs, muitas das proibições impostas por eles foram excluídas, mas as mulheres continuaram sendo severamente vigiadas e punidas, por qualquer deslize tido como inaceitável dentro sociedade afegã.
Apesar das burcas, as afegãs sempre foram muito vaidosas com seus cabelos e maquiagem. As madeixas longas são cultivadas por elas, que procuram imitar as heroínas dos filmes de Bollywood. Muitos maridos não permitem que suas mulheres cortem-nas. Nenhum homem pode entrar em um dos salões de beleza afegãos, que ainda continuam marginalizados. As mulheres temem a reação dos partidários do antigo regime que não aceitam a visão de uma mulher com a cabeça descoberta.
Pelo fato de os homens não poderem entrar nos salões, esses representam um bom negócio para as cabeleireiras, pois eles não podem controlar o dinheiro ganho por elas e nem lhes dar ordens em seus negócios. Em geral, os serviços feitos pelas mulheres no país restringem a tecer tapetes, vender ovos, trabalhar em hospedarias e em alfaiatarias. Mas, nesses casos, os negócios são administrados pelo pai, ou irmão, ou marido ou até por um parente mais afastado.
A maquiagem das mulheres é extremamente pesada, ocupando o kohl (kajal) um lugar de destaque. Pelos padrões culturais do país, as afegãs acham que as mulheres ocidentais usam tão pouca maquiagem que ficam parecidas com homens. A maquiagem das noivas é muito forte, bem ao estilo “drag queens”. A boa tradição exige que a maquiagem delas seja demorada, como se fora um evento especial. Até os bebês usam o kohl para “combater o olho do diabo”.
Ainda criança, a menina já é prometida em casamento, normalmente a um homem bem mais velho, que pode dar à sua família um bom dote. A preocupação com o casamento da garota acontece assim que tem a primeira menstruação. Representa o momento a partir do qual ela já pode e deve se casar, antes que “fique falada”. É o período em que as transações comerciais são levadas a cabo. Em muitos casos, ela é, literalmente, vendida. Mas muitas delas são casadas antes de ficarem menstruadas. Ao se casar, a garota vai morar com o marido na casa dos pais dele, junto com os sogros, irmãos e suas famílias, onde a máxima comum é a de que “lugar de mulher é em casa”. Mesmo dentro de casa existe a parte destinada às mulheres, separando-as dos homens.
Os homens mais velhos estão sempre em busca de uma esposa mais jovem, talvez para provar a sua virilidade, relegando ao desprezo as esposas mais velhas, tornando-as mulheres muito tristes e sogras rancorosas. Mesmo os irmãos mais novos possuem a obrigação de vigiar e regular suas irmãs solteiras. Há casos de mulheres que são obrigadas a usar burcas até dentro de casa, passando a sofrer sérios problemas de visão, alguns deles levando à cegueira, pois a burca quase não oferece visão periférica. Outras são proibidas de saírem de casa por períodos de até de oito anos.
A mãe afegã não se abre com a filha, preparando-a para a noite de núpcias que, na maioria das vezes, transforma-se numa noite de terror para a pequena. Mas reza a tradição local que, quanto mais aterrorizada fica a nova esposa, maior é o indicativo de sua virgindade. O que muito alegra o esposo e sua família. A muitas das recém-casadas é vedado o contato com o exterior, durante muitos meses, inclusive com suas famílias, para que se adaptem à nova família que foi obrigada a abraçar.
A mulher, que não aceita fazer sexo com o marido, é surrada e pode sofrer queimaduras de cigarro. As jovenzinhas mais rebeldes possuem marcas de surras e cigarro pelo corpo. Em hipótese alguma, a sociedade afegã considera que haja estupro por parte do marido em relação à esposa. Ela é propriedade dele e deve servi-lo sempre. E só pode falar com os homens de sua própria família. São castigadas até por serem bonitas e inteligentes. A autoimolação é comum entre as mulheres desesperadas.
Quando o marido sai, cabe à sogra a vigilância sobre as mulheres do filho (ele pode ter muitas mulheres). Em muitos aspectos ela é bem mais cruel do que o homem. Oprime as noras, como se quisesse vingar tudo aquilo pelo qual já passou. É a vez de fazer valer o poder que nunca teve até então. Às esposas mais velhas, também, cabe vigiar as mais jovens. E, muitas vezes, acabam por transformá-las em escravas.
Muitas garotas, não aguentando os maltratos do marido, que, em muitos casos, poderia ser seu avô, e muitas vezes viciado em haxixe ou ópio, costumam fugir. Mas são denunciadas à polícia pelas próprias mães por “quebrar os votos do matrimônio”. Na verdade, as mães temem que as filhas possam ser devolvidas, de modo que a família tenha que restituir o dote recebido por ocasião do casamento.
O divórcio é considerado a coisa mais vergonhosa que pode acontecer a uma mulher. Mesmo assim, algumas o preferem ao sofrimento em que vivem. Ao se divorciarem, os filhos ficam com o marido. Um pai pode desfazer o casamento da filha, mesmo depois de casada e com filhos, caso não receba o dote, sem se preocupar com o futuro dela. Também, pode renegar a filha até que o marido pague-lhe o dote.
O mais cruel é que os homens podem andar pelas ruas de mãos dadas, conversarem abraçados ou se acariciarem nos braços, mas não aceitam o contato público com a mulher. Qualquer aproximação, eles entendem como se fosse um convite para o sexo. Tratar a mulher como empregada é o único modelo de relação que conhecem. A relação de carinho entre homem e mulher só pode ser explícita dentro do quarto do casal. Qualquer carinho fora disso é rechaçado.
Embora seja proibido tocar em mulheres que não são suas esposas, muitos homens afegãos tentam apalpar as poucas mulheres que encontram pelas ruas, deixando-as envergonhadas e amedrontadas, pois o castigo sempre recai sobre elas. Por isso, toleram tudo caladas. Uma expressão comum no país, para falar do assédio masculino ao sexo feminino, é dizer que “Os homens estão caindo das bicicletas!” pelo despudor delas. As poucas mulheres, que andam pelas ruas, mantêm a cara fechada (agora que podem usar lenços nas cabeças em vez da burca), para se livrarem do assédio masculino.
Na casa paterna, a filha não pode ser surrada por outro homem, mas na casa do marido, isso não tem importância alguma. A queixa de uma mulher contra o marido não é levada a sério. A esposa, que dá ao homem um menino, torna-se a favorita, principalmente quando ele já tem muitas meninas com as outras mulheres. Os pais do marido pressionam a nora para que faça sexo e ganhe um filho. E aquela que não ganha um menino dá direito ao esposo para se divorciar dela.
Os filhos masculinos são muito valorizados no Afeganistão. Ter muitas filhas é sinal de infortúnio, pois são os homens quem mantém as famílias e, além disso, quando se casam, continuam a viver com os pais, ajudando no sustento deles. Muitas famílias deixam claro que as meninas são indesejadas. As mulheres afegãs envelhecem com muita rapidez. Parecem ter o dobro da verdadeira idade.
Moralistas radicais estão sempre de olho nas mulheres, podendo lhes jogar ácido no rosto, por achar que estão sendo imorais, ou apedrejá-las até a morte. Tal atitude é considerada legal pela sociedade. A situação da mulher é tão grotesca, que ela pode ser presa por ter sido estuprada. Se o marido mata o estuprador, ela vai presa junto, com uma pena bem maior de que a dele, por ter sido a causa do crime. Engravidar do namorado, que não foi o homem escolhido pelos pais, também a leva à cadeia, assim como matar maridos violentos, pouco importando se a esposa é ainda uma criança.
No Afeganistão não existe o conceito de “namoro”. Moças e rapazes afegãos não se encontram, não flertam e não namoram. Mulheres vivendo sozinhas são tidas como prostitutas. Nas festas, homens e mulheres ficam em compartimentos separados. Os homens não se levantam à entrada de uma mulher. Se o homem recebe um amigo, a mulher fica fechada em outro cômodo, até que esse vá embora. As mulheres são literalmente ignoradas. O que elas dizem, segundo a tradição, não merece ser levado a sério.
O Afeganistão possui muitas etnias. Algumas são consideradas melhores do que outras. Assim como na Índia, a limpeza de banheiros não é feita por mulheres de determinadas raças. Não se pode menosprezar a coragem das mulheres afegãs que suportam uma sucessão de guerras intermináveis, a pecha de indesejáveis, casamentos forçados, maridos e sogras tiranos, a prisão imposta pela burca, a proibição de estudar e trabalhar, assim como a proibição de fazer parte da história de seus país.
Nota:É claro que existem exceções como em todas as culturas. Mas o descrito aqui refere-se ao que é normal na cultura afegã.
Nota: Imagem copiada de http://www1.folha.uol.com.br

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