Dilma Rousseff: 'Memória é a arma humana para impedir a repetição da barbárie'

“O Holocausto não é nem nunca será apenas um momento histórico. Ele abre no mundo uma determinada prática de trato do opositor político, que consiste em não apenas calá-lo, mas reduzi-lo à sub-humanidade, pela tortura, a dor e a morte lenta (…). O dever de memória não deve se confundir com a passividade da simples lembrança. Ele expressa a firme determinação de impedir que a intolerância e a injustiça se banalizem no caminho da humanidade. A memória é a arma humana para impedir a repetição da barbárie”, declarou a Presidenta Dilma Rousseff na solenidade do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, nesta quinta-feira à noite, em Porto Alegre.

“Nosso dever é não compactuar com nenhuma forma de violação dos Direitos Humanos em qualquer país, em especial o Brasil”, reiterou Dilma. Ela condenou atos de intolerância, discriminação e aversão ao outro e ao diferente. Pediu, a todos aqueles que não sofrem perseguições, “solidariedade e coragem” para se manifestar contra as práticas da barbárie. E ressaltou que devemos nos esforçar para aprimorar o convívio, o diálogo e o respeito a todas as minorias.

A presidenta homenageou o povo judeu, cuja “resistência cultural e religiosa pavimentaram o caminho para uma pátria física, direito que não pode ser negado a nenhum povo”. E afirmou que a “tradição e dignidade dos judeus integram de forma especial a nacionalidade brasileira”.

Dilma foi a última e principal oradora da solenidade promovida pela Conib em parceria com Federação Israelita do Rio Grande do Sul, que teve a presença dos governadores Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, e Jaques Wagner, da Bahia; dos ministros Fernando Bezerra, da Integração Nacional; Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos; dos prefeitos de Porto Alegre, José Fortunatti, e de São Paulo, Gilberto Kassab; dos presidentes da Conib, Claudio Lottenberg; da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS), Jarbas Milititsky; e do Congresso Judaico Latino-Americano, Jack Terpins; do embaixador de Israel Giora Becher, entre outras autoridades políticas, diplomatas, intelectuais, rabinos e líderes comunitários.

Claudio Lottenberg elogiou a preocupação da presidenta com os Direitos Humanos, com as vítimas de perseguições, com a liberdade de orientação sexual, os direitos da mulher e o direito à liberdade religiosa. E acrescentou: “Como presidente da Confederação Israelita do Brasil, tenho a obrigação de lutar contra todos os negadores do Holocausto. Como líder de uma comunidade que participa intensamente da vida brasileira, tenho o dever moral de me alinhar aos que preservam a democracia e aos que lutam contra os intolerantes. Sobretudo, devo apoiar aqueles que respeitam a diversidade. A senhora sabe, melhor do que todos nós, o que é ser torturada e o que significa ter os seus direitos de expressão subtraídos”. Antes da cerimônia, ele expressou satisfação em saber que a presidenta tem posição diferente, em relação ao Irã, daquela que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou no passado.

“Hoje, no mundo inteiro, fazemos questão de lembrar o Holocausto, para que ele não se repita. Não vamos mais nos calar”, disse o presidente da FIRS, Jarbas Milititsky, ressaltando que o mundo assistiu calado aos horrores do Holocausto.

O governador Tarso Genro disse que a comunidade judaica terá, em sua gestão, “braços acolhedores”. “Este é um dia de construção de valores, tão bem defendidos pelos judeus”, afirmou. O prefeito José Fortunatti lembrou que Porto Alegre é a primeira cidade do País a instituir a disciplina de estudos do Holocausto nas escolas municipais, com o objetivo de “criar um ambiente de reflexão em torno de temas como a intolerância e a discriminação, de modo que se possa construir um País mais solidário, humano e tolerante”.

O ex-chanceler Celso Lafer, um estudioso da filósofa Hanna Arendt, citada mais de uma vez pela presidenta, elogiou a fala de Dilma pela “reiterada manifestação contra as violações dos Direitos Humanos em qualquer país”. Lafer citou o fato de a presidenta lembrar que o Holocausto instituiu a tortura como método de desumanização em escala industrial, do que se aproveitaram governos e regimes em várias partes do mundo depois da Segunda Guerra “fazendo muitas vítimas, como ela, por exemplo”.

Veja na íntegra o discurso de Dilma.
O evento mereceu grande destaque na mídia brasileira: EstadãoFolhaVejaZero HoraJornal do Comércio, portais UOLiG , G1 , blog Conversa Afiada. Também foi publicado no jornal Estado de Minas, em 27 de janeiro, um texto alusivo à data, de autoria de Marcos Brafman, presidente da Federação Israelita de Minas Gerais.

Dilma Rousseff homenageia em Porto Alegre as vítimas do Holocausto. Foto: Edu Andrade.

A partir da esquerda: Jarbas Milititsky; Henry Chmelnitsky, presidente do Conselho da FIRS e Claudio Lottenberg, que homenageia Dilma Rousseff. Foto: Edu Andrade.

O presidente da Conib, Claudio Lottenberg, discursa na solenidade em Porto Alegre. Foto: Edu Andrade.

A partir da esquerda: Merav Safdié; Manoel Knopfholz, presidente da Federação Israelita do Paraná; Sarita Schaffel, presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro; Julia Guivant, presidente da Associação Israelita Catarinense; Boris Ber, presidente da Federação Israelita de São Paulo; Claudio Lottenberg e Jack Terpins, em Porto Alegre. Foto: Edu Andrade.

Dilma Rousseff cumprimenta o escritor Ben Abraham, presidente da Sherit Hapleitá (Associação Brasileira de Sobreviventes do Nazismo). Foto: Edu Andrade.