Como sobreviver nas redes sociais em tempos de convulsão política

Foto: Eugenia Loli/Flickr/Creative Commons
Ferramentas das próprias redes e plugins ajudam a organizar a interação nas redes sociais
  Depois dos acontecimentos políticos desta quarta-feira (17), é natural que o comportamento das pessoas na internet repita o estado de polarização visto nas ruas. Redes sociais são, por essência, um lugar de debates. E por mais que algoritmos e filtros classifiquem o conteúdo de maneira a quase sempre agradar o usuário, é difícil passar incólume a postagens que podem ser consideradas ofensivas.
Quase todas as redes sociais, no entanto, têm mecanismos que possibilitam aos usuários controlar exatamente o que veem em seus feeds. E com uma ajuda externa de plugins, por exemplo, é possível transformar sua vida em redes sociais em um antro de paz - ou em um ringue para debates acalorados. Só depende do que você quiser.

Escolha o seu perfil

Não quero saber de política agora
É compreensível que, em tempo de polarização e acirramento dos ânimos, algumas pessoas busquem mecanismos para limpar os feeds. Antes de prosseguir, porém, saiba que o Facebook já tem mecanismos que organizam os posts que você vê com base nos seus próprios likes: então, se você costuma curtir poucas coisas relacionadas à política, a tendência é que o assunto acabe sumindo da sua linha do tempo. Se isso não aconteceu, e você está realmente disposto a ficar por fora, faça o seguinte:
  • Use os próprios mecanismos do Facebook. Quando você opta por esconder o post, a rede social entende que aquele conteúdo não é do seu interesse e passa a esconder também publicações relacionadas. O mesmo acontece quando alguém é bloqueado.
  • Priorize o conteúdo de temas específicos. No próprio Facebook, você pode organizar a exibição do conteúdo: marque as páginas de assuntos não-relacionados à política para que elas exibam o conteúdo primeiro. Assim, você provavelmente vai acordar e se deparar com uma boa notícia, uma receita ou um vídeo de gatinho.
  • Apele para ajuda externa. Alguns plugins como o Social Fixer permitem que algumas palavras-chave sejam escondidas enquanto você navega pela web. Além disso, é possível organizar o conteúdo em abas com assuntos de interesse - trabalho, esportes, relacionamentos, política etc. Há aplicativos semelhantes para Twitter, como o Open Tweet Filter, que filtram palavras-chave previamente selecionadas pelo usuário.
Quero saber o que está acontecendo, mas não me envolver em discussões
Pela própria natureza do Facebook, seu feed provavelmente tem mais posts com opiniões políticas semelhantes à sua do que de oposição. Isso, por si só, já ajuda a impedir embates diretos. É o que especialistas chamam de ‘filtro-bolha’: os usuários ficam presos em conteúdos que dialogam com suas próprias preferências, e ficam alheios ao que posta quem pensa diferente deles. Especialistas dizem que isso é potencialmente danoso numa democracia; o Facebook se defende e diz que a escolha pessoal dos usuários pesa mais do que seus algoritmos. Se você quer se manter alheio à oposição, faça o seguinte:
  • Bloqueie, esconda e evite interagir com a oposição. Isso treinará os algoritmos do Facebook a exibirem só o que dialoga com seus próprios posicionamentos. Ele priorizará os conteúdos que os os amigos parecidos com você gostaram.
  • Marque páginas e amigos de interesse. Páginas de jornal ou perfis que funcionam como distribuidores de notícia podem ser marcados para que o conteúdo seja exibido sempre - assim, você não corre o risco de perder algo que foi postado porque o algoritmo entendeu que aquilo não lhe agradaria.
Foto: reprodução
Você pode assinalar as páginas que deseja ver primeiro em seu feed de notícias
Você pode assinalar as páginas que deseja ver primeiro em seu feed de notícias
 
Quero ver tudo, discutir e tentar converter quem está do outro lado
O comportamento das pessoas nas redes sociais, ao contrário do que parece, não é o de incendiar as discussões e provocar o outro lado; mas, sim, de falar com quem pensa parecido. Um estudo do instituto de pesquisa Pew publicado em 2014 mostra que, em geral, as pessoas não postam em seus perfis no Twitter e no Facebook se acham que a opinião vai contra o que seus seguidores ou amigos pensam. Pelo contrário: na busca por retweets, interações e likes, a tendência é que a decisão por publicar uma opinião seja tomada com base no potencial de sucesso que aquele post pode ter.
Então, pelo próprio comportamento das pessoas - além dos filtros e algoritmos - a tendência é que você esteja cercado de opiniões concordantes. Isso, é claro, não é impedimento para se esforçar para burlar os mecanismos e cair em espaços de debate mais democráticos. Veja como:
  • Curta páginas e siga pessoas com opiniões divergentes da sua. Parece óbvio, mas isso, por si, não é suficiente: é preciso manter interação com esses espaços, com likes esporádicos, para lembrar o algoritmo que aquele conteúdo é relevante para você.
  • Leia os comentários. Espaço de comentários em posts de jornais são, por natureza, um local de debates entre pessoas de opiniões divergentes. É por isso, também, que eles são vistos como locais hostis - e estão sujeitos à regras de cada publicação, como veto a discurso de ódio e posts em letras maiúsculas. As pessoas se chocam com esses espaços porque, neles, são expostas opiniões divergentes sem os filtros a que estão acostumadas nas redes.
  • Não alimente os trolls. Muitas pessoas estão na internet apenas para causar confusão. Tenha isso em mente ao se envolver em discussões.