Fábula – O GATO E O VELHO RATO


tv123456Certo gato havia se tornado o terror da cidade, ou melhor, dos ratos que nela viviam. A fama do bichano corria mundo, e seu dono não se cansava de receber propostas para torrá-lo nos cobres, mas não o vendia por dinheiro algum. No máximo, limitava-se a alugá-lo por um dia ou dois. Nada mais que isso. 

Mas, quando a fama é muito grande, ela acaba comendo o dono. E foi exatamente isso o que aconteceu com o gato, pois os ratos não mais deixavam a toca, receosos de encontrar tal figura, que para eles era o diabo em carne e osso, e também voracidade.
O felídeo então bolou uma estratégia. Pendurou-se no telhado de cabeça para baixo, fingindo-se de morto. Logo a notícia espalhou-se como pólvora. Sem falar que a fome estava a dizimar os roedores, que, cientes da morte do inimigo, puseram-se a fazer a festa. Mas eis que o defunto ressuscita, abocanhando um monte de ratos, e ainda prometendo devorar os que escaparam. E mais uma vez os roedores desapareceram. Nem sinal de uma de suas alminhas. O gato então bolou outra ideia e a pôs em execução. Entrou numa velha arca e despejou um saco de farinha sobre si, ficando aquela brancura ali, quietinho. Um dos ratos, porém, vítima de muitos sobressaltos e corridas, não caiu na manha do embusteiro. De longe, gritou em alto e bom tom, acabando com a artimanha do velhaco:
– Esta coisa coberta de farinha, está muito estranha. Nem se fosse um saco cheio, deveríamos chegar perto.
ReflexãoOs espertalhões estão sempre cheios de ideias mirabolantes para nos fazerem cair como patinhos em sua teia fajuta. Possuem um belo discurso, tentando nos mostrar que, em tudo o que fazem, os maiores contemplados somos nós, e que estão a fazer isso e aquilo só pensando no nosso bem-estar e coisa e tal. Ai, como são compassivos, generosos e altruístas, meu Deus! E pior, muita gente cai nessa lorotagem de terceira categoria, sem eira e nem beira e muito menos credibilidade.
O rato experiente desta fábula passou por muitos apertos até compreender que não se pode acreditar em tudo o que se ouve ou se vê, sob o risco de cair numa esparrela, ou melhor, na boca da fera. Como ele devemos agir, pois ninguém vira santo de uma hora para outra. Até mesmo nossos olhos podem nos trair, imaginemos então o resto. Nossas ações devem ser o resultado de análises detalhadas, para que possamos errar o mínimo possível em nossos procedimentos e escolhas.
O melhor mesmo é fazermos como os antigos, que nos ensinavam a “ter um pé na frente e outro atrás” em relação às novidades, pois prudência nunca fez mal a ninguém, além de trazer menos desgosto e vida longa. E, como diz Nietzsche: “Frequentemente, para triunfar é preciso ter muitos inimigos, a fim de que todas as nossas energias estejam dispostas para o combate.”.