CIDADE DO VATICANO — Os dois argentinos mais importantes e poderosos,
o Papa Francisco e o presidente Maurício Macri, se encontraram neste
sábado no Vaticano pela primeira vez. Macri viajou com a intenção de
suavizar a relação com o Pontífice, que já passou por alguns
desencontros, mas os gestos indicam que a reunião saiu pior que o
esperado. O encontro durou apenas 22 minutos, com fotos mostrando o
Papa, normalmente carismático, muito sério e frio.
Ao fim da visita, o presidente contou ao “La Nación” que convidou o
pontífice à Argentina, mas Francisco respondeu que a visita não ocorrerá
neste ano, porque a agenda dele está cheia, mas garantiu que viajará ao
país o quanto antes. Desde que assumiu o cargo, Francisco já esteve na
América Latina para visitar Brasil, Paraguai, Bolívia, México e Cuba,
mas até agora não viajou para seu país de origem.
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Macri
chegou a dizer a jornalistas que a reunião tinha sido “muito boa”, mas
não convenceu. Enquanto isso, o departamento de Imprensa do Vaticano
disse que o encontro, que ocorreu na Biblioteca do Palácio Apostólico,
foi “cordial”, com a abordagem de temas de interesses mútuos.
Macri contou que Francisco expressou preocupação com a pobreza e o
narcotráfico na Argentina, e os dois concordaram em trabalhar em
conjunto sobre os temas. Macri disse ao Papa que seu governo busca
atrair investimento ao país para criar emprego e ressaltou que buscar
unir os argentinos.
Por outro lado, o Pontífice apontou a importância de restabelecer
relações com o mundo e ser razoável e confiável, e falou da importância
em complementar o ensino com esporte, arte e educação pública.
Ao fim do encontro desde sábado, o Papa cumprimentou um por um a
delegação de dez pessoas que acompanhou Macri na visita. Entre eles,
estava a primeira-dama Juliana Awada, vestida de preto e com um véu na
cabeça, e a chanceler Susana Malcorra. Em seguida, ocorreu a tradicional
troca de presente.
DESENCONTROS NO PASSADO
Os dois argentinos já
tiveram suas discordâncias no passado. No final de 2009, quando Macri
era líder do partido Proposta Republicana (Pro), ele decidiu não
recorrer de uma decisão judicial que permitiu o casamento de Alex Freyre
e José María Di Bello, o que causou um rebuliço na Igreja. Dias depois,
Macri e Bergoglio se encontraram na tentativa de reconciliar as
posições, mas o mal-estar continuou.
A tensão entre eles voltou a se elevar em setembro de 2012, quando o
então prefeito de Buenos Aires decidiu regulamentar um protocolo que
permitiu não punir abortos na cidade, outro tema sensível para o
cardeal. O Papa, por sua vez, enviou recentemente um rosário de presente
à dissidente detida Milagro Sala, gesto interpretado como apoio
político à titular da organização Tupac Amaru.
Segundo fontes próximas ao Papa, Francisco está farto de ser
utilizado politicamente na Argentina, como fez Cristina Kirchner, que o
visitava por qualquer desculpa para sair em fotos com ele. Parece que
agora, o Pontífice quer ter uma relação mais profissional como Chefe de
Estado, mas ninguém esperava uma frieza tão evidente.