Jogo sujo cibernético: hacker colombiano conta como manipulou eleições em países da América Latina

Andrés Sepúlveda é um hacker colombiano que afirma ter manipulado eleições presidenciais na América Latina por meio de técnicas de espionagem durante 8 anos — durante os quais viajou por 9 diferentes países. Condenado a 10 anos de prisão em abril de 2015, ele falou à reportagem da Bloomberg BusinessWeek sobre como fazia para espionar, hackear e influenciar nos resultados das eleições.
— Meu trabalho era fazer ações de guerra suja e operações psicológicas, propaganda negra, rumores — todo o lado obscuro da política que ninguém sabe que existe, mas todos podem ver.
Ele está cumprindo pena de 10 anos de prisão por acusações de uso de software malicioso, conspiração para cometer crime, violação de dados pessoais e espionagem — todos crimes relacionados à pirataria durante as eleições presidenciais da Colômbia de 2014. 
Ele concordou em contar sua história completa, pela primeira vez, na esperança de convencer o público de que ele está reabilitado, e também de conseguir apoio para reduzir sua sentença.
De acordo com Sepúlveda, os pagamentos pelos seus trabalhos eram feitos em dinheiro — sendo metade pago adiantado. Quando viajava a trabalho, o hacker usava um passaporte falso e ficava sozinho em um hotel, longe da equipe de campanha. Ninguém podia levar telefones nem câmeras para seu quarto.
No dia da eleição, Sepúlveda se livrava de tudo que poderia mandar ele e seus manipuladores para a prisão, como telefonemas e e-mails interceptados, listas de vítimas de hackers, briefings confidenciais de preparativos de campanhas, e muito mais. Todos os telefones, discos rígidos, pen drives e servidores de computador eram destruídos.
Vida no crime
Sepúlveda cresceu em Bucaramanga, uma cidade simples localizada a cerca de oito horas ao norte de Bogotá, na Colômbia.
Em 2005, o irmão mais velho de Sepúlveda — que trabalhava como publicitário — estava ajudando com as campanhas do congresso de um partido alinhado com o então presidente colombiano, Álvaro Uribe.
Durante uma visita à sede do partido, o hacker abriu seu laptop e começou a vasculhar a rede sem fio do escritório. Ele facilmente acessou o computador de Juan José Rendón, consultor político e então estrategista do partido, e baixou os horários de trabalho do presidente Uribe e também seus futuros discursos.
Sepúlveda afirma que Rendón ficou furioso — e o contratou no local mesmo. Rendón, por outro lado, diz que isso nunca aconteceu.
O hacker diz que seu primeiro trabalho foi invadir o site de um rival de Uribe, roubar seu banco de dados de endereços de e-mail, e enviar spams para as contas. Ele recebeu US$ 15.000 em dinheiro por um mês de trabalho — cinco vezes mais do que em seus trabalhos anteriores.
Socialismo
Além dos pagamentos, a questão ideológica também influenciou nos trabalhos de Sepúlveda em eleições de diversos países da América Latina.
— Eu trabalhei com presidentes, figuras públicas com grande poder, e fiz muitas coisas das quais absolutamente não lamento, porque fiz isso com plena convicção e com um objetivo claro, de acabar com as ditaduras e governos socialistas na América Latina.
Sepúlveda também atuou nas eleições presidenciais da Venezuela. Um dia antes do candidato Nicolás Maduro reivindicar a vitória na disputa, o hacker invadiu sua conta no Twitter e publicou alegações de fraude eleitoral. A medida fez com que o governo da Venezuela desativasse a Internet em todo o país por 20 minutos, alegando "conspiração hacker do exterior".
Mas a maior eleição na qual Sepúlveda atuou como hacker foram as do México de 2012, que elegeram o atual governante, Enrique Peña Nieto. As técnicas usadas vão desde ligações gravadas em nome de candidatos da oposição a milhares de eleitores durante a madrugada até a criação de milhares de perfis fake em redes sociais com o objetivo de colocar tópicos favoráveis ao candidato Peña Nieto nos mais comentados da rede.
Preso desde 2012 após atuar com seus métodos ilícitos contra o partido no poder da Colômbia, do presidente Juan Manoel Santos, Sepúlveda agora dorme com um cobertor à prova de balas e um colete na cabeceira de sua cama — além de ficar em uma cela a prova de bombas. Ele já chegou a sofrer atentados na cadeia, mas foi salvo pelos guardas do presídio.
— Eu sempre disse que há dois tipos de política — a que as pessoas vêem e o que realmente faz as coisas acontecerem. Eu trabalhei na política que não é vista.
Quando perguntado se acredita que as eleições norte-americanas estão sendo adulteradas, Sapúlceda é taxativo: "Estou 100% certo de que está".