Movimentações políticas marcam dias e horas que antecederam a votação

Imagem para o resultado de notíciasMuitas movimentações políticas marcaram os dias e as   horas  que  antecederam a   votação   deste domingo  ( 17 ),  em  Brasília.       repórter Giuliana Morrone mostra como foi essa batalha pelos votos de deputados.
O que se negociou no Palácio da Alvorada, nos gabinetes do Palácio do planalto e às margens do lago Paranoá, onde Lula foi ministro de hotel, ficou estampado nas páginas do diário oficial.
O governo publicou às pressas uma edição extra na sexta-feira, para tornar oficial o agrado aos partidos e aos deputados. Foram seis páginas com a lista de quem foi premiado com cargos. As mudanças atingiram 18 ministérios, como os da Agricultura, da Saúde e do Trabalho. Muitas mudanças até na Fundação Nacional do Índio, a Funai.
A oposição diz que repartições públicas foram usadas para atender aos partidos e para socorrer o governo na barganha por votos.
“As armas que o governo usou foram os cargos. Prometeram cargos, mas os deputados chegaram a um determinado momento e entenderam que essa oferta eram como notas de R$ 3, portanto falsos e não valeriam mais nada”, destaca o deputado Pauderney Avelino, DEM-AM, líder do partido.
“Não é promessa de cargos. Repactuar o governo, é recompor o governo. Quem tá com o governo, tá com o governo, quem não tá, tá fora do governo, é disso que se trata, porque esse é o presidencialismo de coalizão”, diz o deputado José Guimarães, PT-CE, líder do governo.
Às vésperas da votação, o governo transferiu terras da União para o Amapá. A presidente Dilma anunciou a transferência, que ainda não foi publicada como oficial.
A oposição pediu investigação da Polícia Federal. Disse que o objetivo do governo foi trocar terras por oito votos. E o PSDB tentou até a Justiça para impedir novas nomeações, mas o pedido foi negado.
“Não é porque o cargo é em comissão que o cargo perde a sua natureza de interesse público. O cargo sempre tem que ser utilizado visando o interesse público”, afirma o deputado Carlos Sampaio, PSDB-SP.
"A presidenta Dilma agiu dentro da lei, dentro da ética, e assim que nós trabalhamos o tempo inteiro", explica o senador Humberto Costa, PT-PE, líder do governo.
A Advocacia-Geral da União (AGU) disse que não há ilegalidade nas nomeações do Governo Federal publicadas no Diário Oficial e que não houve nenhuma irregularidade na transferência de terras para o estado do Amapá.
O governo disse que apenas cumpriu uma lei de 2001, passando terras para ex-territórios que viraram estados como Roraima e Amapá.
Nas últimas horas antes da votação, governo e oposição investiram tudo para tentar conquistar os indecisos. Não eram muitos, 50, 40, mas que poderiam fazer a diferença. A investida aumentou junto a deputados de partidos nanicos e dissidentes. Governadores dos dois lados entraram em campo.
Indecisos foram cortejados em palácios; no Alvorada, onde fica a presidente Dilma, e no Jaburu, onde mora o vice-presidente Michel Temer.
Se o governo tem o Diário Oficial, a equipe de Temer trabalhou com a promessa de poder, de um futuro ministério, de novos cargos.
Em dúvida, se votava contra ou a favor da abertura de processo de impeachment, o deputado Júlio Cesar passou a semana, sem conseguir dormir.

“Um assédio que deixava assim angustiado, tirava o sono, fazia reflexão, media, contava, todos os dias”, conta o deputado Júlio Cesar, PSD-PI. E afirma que foi cercado pelos dois lados. “Eu tomei uma decisão sem barganha, nunca condicionei nada, não pedi cargo nem pedi emenda pra ficar ou pra sair. Tomamos uma decisão pessoal a favor do impeachment”.
O deputado José Carlos Araujo (PR-BA), presidente do Conselho de Ética que está julgando e analisando o processo contra Eduardo Cunha por quebra de decoro parlamentar, que estava em silêncio sobre como votar, foi assediado até as vésperas da votação. “Fui procurado para me convencer em votar para um lado ou para outro, mas eu já estava convencido há muito tempo”, diz o deputado.
Um outro recurso para buscar apoio: na semana que passou, o governo liberou R$ 32 milhões de emendas individuais de parlamentares. Neste ano, o governo liberou mais de R$ 149 milhões de emendas individuas de parlamentares que tinham sido aprovadas de 2012 a 2015.  Governistas negaram qualquer relação com o impeachment.
Para somar votos, deputados que estavam longe do Congresso, trabalhando como secretários nos estados, reassumiram os mandatos. Três ministros do governo Dilma, que se rebelaram da decisão do PMDB de votar pelo impeachment, também voltaram para a Câmara como deputados. Mas um deles mudou de lado. Mauro Lopes deixou a secretaria de Aviação Civil para votar pelo impeachment. O último esforço foi para tentar virar votos.
Lula, que tinha ido para São Paulo, voltou para Brasília neste domingo cedo. O vice-presidente, Michel Temer, pretendia acompanhar a votação de São Paulo: foi na sexta, mas voltou para Brasília no sábado de manhã.

Para quem resistia a tomar posição, governistas pediam solução “nem, nem”. “Nem impeachment, nem governo”, mas abstenção.
E quando já não havia mais nada a fazer momentos antes do início da votação o governo passou a monitorar notícias do serviço médico. Ausências por doenças também poderiam contar como esperança.