Introdução
Há dez anos o crime organizado parou São Paulo – a
cidade mais rica do País. Nesses últimos dez anos, porém, o crime
organizado não parou, seguiu em frente, só cresceu, ampliou suas
atuações, expandiu e variou seus “negócios”. Em 15 de maio de 2006, após
a onda de ataques contra agentes de segurança do Estado iniciada na
noite do dia 12, o Primeiro Comando da Capital (PCC) deixou a população
da maior metrópole da América do Sul atônita, amedrontada, acuada. Em
razão do pânico motivado pelas mortes em série, escolas,
estabelecimentos comerciais, empresas fecharam mais cedo.
Até fóruns criminais e o Ministério Público dispensaram seus funcionários e abreviaram o expediente. Trabalhadores refugiaram-se em suas casas. A cidade se calou.
Até fóruns criminais e o Ministério Público dispensaram seus funcionários e abreviaram o expediente. Trabalhadores refugiaram-se em suas casas. A cidade se calou.
Sem aviso prévio à população, mas com conhecimento do Estado, os ataques cessaram. No domingo, dia 14 de maio, após uma reunião no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes entre o líder da facção criminosa, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e a cúpula da gestão Claudio Lembo, substituto de Geraldo Alckmin que disputaria a eleição presidencial mais à frente, a normalidade começaria a voltar a São Paulo. O Estado, em julho do ano passado, teve acesso ao depoimento à Justiça do delegado José Luiz Ramos Cavalcanti, que participou da reunião.
Ele afirma que uma advogada da facção dizia que os ataques só parariam se os bandidos tivessem a certeza de que Marcola estava vivo e bem. O governo cedeu um avião da PM que levou todos até o encontro com o líder. Lá, ele foi convencido a dar a ordem para encerrar os ataques. Um outro detento, conhecido por “LH”, recebeu um celular e, após os bloqueadores serem desligados, passou o recado às ruas.
Para recontar e atualizar essa história, o Estado traça nesta reportagem especial, elaborada durante um mês, um panorama do avanço do PCC ao longo desse período com base em investigações das Polícias Civil e Federal e do Ministério Público Estadual (MPE). Já se sabe que seu faturamento aumentou, suas fronteiras foram ampliadas, seu “exército” se multiplicou, mesmo com Marcola e as principais lideranças presas nos presídios mais seguros de São Paulo. Diante do êxito do crime, promotores, magistrados e especialistas em Segurança Pública apresentam as razões para o fracasso do Estado em combatê-lo e também apontam os possíveis caminhos para sufocar a facção.
A reação aos ataques às forças de segurança do Estado naquele mês de maio também foi imediata. Em dez dias, foram 505 civis mortos - 107 só no domingo, dia 14, o dia do encontro. Hoje, parentes de vítimas da matança que se espalhou pelas ruas de São Paulo recontam suas histórias e narram a incessante busca por justiça. A dor uniu as mães das vítimas e deu origem às Mães de Maio. Algumas mães, porém, não enterraram seus filhos – corpos e histórias das vítimas foram apagados: são os desaparecidos de maio.
O Estado relata o desaparecimento de quatro jovens negros e pobres das periferias. Tudo reconstituído para não se esquecer do maio de 2006 nem repeti-lo.
ESTADÃO